Avesso a modismo, Olivier decidiu que ele mesmo iria decorar seu belo apartamento, num edifício dos anos 1940 na Praça da República, região central de São Paulo.
Com o auxílio de uma corretora, viu 20 apartamentos num único dia. Do alto de um deles avistou a cobertura do edifício Esther. “Parecia uma favela, mas alguma coisa me puxava para ali”, afirma. Anquier descobriu que o lugar estava à venda e apostou todas as fichas numa proposta audaciosa. Negócio fechado, começaram as obras. Foram oito meses de aventuras, dores de cabeça e adoráveis descobertas. Anquier foi tocando ele mesmo o projeto, apenas direcionando o mestre-de-obras.
A preocupação era devolver as características originais privilegiando materiais da época. Durante a reforma, Anquier se debruçou em livros e documentos sobre o prédio e a obra de Vital Brasil. Resgatou a antiga planta e chegou às preciosidades das medidas. As janelas, por exemplo, voltaram a ser originais e o piso também. Aliás, o piso, é um capítulo à parte.
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O desenho assinado pelo cartunista francês Wé Zé Frez Tardi o acompanha desde os anos 1970. |
Um dia, passando por uma rua, Anquier viu uma caçamba lotada de tacos de madeira. Todos inteirinhos, literalmente no lixo. Retornou com seu veículo utilitário de transportar alimentos. Passou a noite enchendo o carro de tacos e levando para casa. A quantidade achada deu perfeitamente para cobrir o chão do apartamento. Anquier tirou proveito da diferença das cores entre eles e criou um elegante mosaico de madeira no chão. Coisa de quem tem faro para encontrar tesouros e dar a eles a função que merecem.
O décor do apê é todo feito com peças pinçadas por ele em antiquários e “famílias vende tudo”. Brecholento assumido, Anquier diz que adora aproveitar, restaurar. “Gosto de coisas e de gente com personalidade, de tudo que tem história”, diz. Ao mesmo tempo é desligado de nomes e grifes. Compra o que agrada ao olhar sem preocupação com a origem. “Outro dia soube por acaso que os bancos da minha cozinha são do Zanine (o designer Zanine Caldas)”, conta. Surpresa maior foi descobrir que o próprio Vital Brasil morou em seu apartamento por seis meses.
Viver esse passado e essas histórias para ele é quase uma filosofia. Por isso o jeito caseiro de ser. Depois de um dia de trabalho no novo restaurante L’Entrecôte de Ma Tante, no Itaim, em São Paulo, onde vai de mesa em mesa perguntando o que o cliente achou da receita secreta de sua tia Nicole, é na cobertura cercada pelas luzes de São Paulo, que o francês, criado em Montmartre, se sente em casa.
2 comments:
Que maravilha o bom gosto erudito do europeu Olivier com o toque de tropicalismo e cores da chiquérrima Adriana Alves ! PARABÉNS vcs vivem com muito estilo e rodeados de pecas de muita qualidade e estilo ;) Treés bien !!!!
Tudu mentiras que achou os tacos na casanba fui eu gilmar gomes cota quen teve a ideia de reaproveitar e de restaurar coisas antigas foran minhas ele eum oportunista aproveitador
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